Discriminação silenciosa: o etarismo no mercado de trabalho
- Laíssa Esmeraldo
- 2 de out. de 2024
- 3 min de leitura
O atual choque de gerações acarreta um tipo específico de preconceito social que vem ganhando força e lugar: aquele baseado na idade. Etarismo é o termo usado para nomear essa modalidade de discriminação da qual a população idosa é a sua maior vítima, muito embora, no mercado de trabalho, esse preconceito se verifica mais cedo, por volta dos 40 anos de idade.
Também conhecido por ageísmo ou idadismo, essa discriminação envolve a atribuição preconceituosa de estereótipos, traços e características negativas a alguém com base na sua idade.
Há um paradoxo quando se trata de etarismo, pois a população está envelhecendo, principalmente com o aumento da expectativa de vida, e os casos de segregação pela idade estão acontecendo de maneira mais precoce.
Uma das dificuldades enfrentadas por pessoas nessa faixa etária reside no âmbito do mercado de trabalho, onde há supervalorização da juventude, para qual são atribuídas características como vitalidade, inteligência, energia e principalmente domínio das novas tecnologias. A segregação do idoso acompanha obstáculos para promoções e, até mesmo, desigualdade salarial, apesar das experiências, habilidades e dos conhecimentos que os idosos eventualmente possuam.
No Brasil, o envelhecimento da força de trabalho é um desafio, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo realizado pela Ernst & Young e Maturi revelou que, de 2012 a 2019, a parcela da população com mais de 50 anos elevou de 23% para 28%.
Os números do IBGE mostram que, em 17 milhões de famílias brasileiras, o sustento econômico fica por conta de pessoas com mais de 60 anos. E estimativas indicam que até 2040 seis em cada dez trabalhadores terão mais de 45 anos de idade.
A mesma pesquisa, realizada em quase 200 empresas no Brasil, evidenciam o perfil do mercado de trabalho para pessoas com mais de 50 anos. A maioria das companhias pesquisadas têm entre 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro de funcionários. E ainda indica, que 78% das empresas se consideram etaristas e têm barreiras para contratação de trabalhadores nessa faixa de idade.
Os dados do IBGE demonstram que as pessoas acima dos 50 anos representam mais de 25% da população e, também, 22% da força de trabalho. Um contraste se revela quando apenas 5,6% das empresas afirmaram ter contratado profissionais nessa classe etária.
Conforme pesquisa do IBGE, pessoas com mais de 50 anos (¼ da população brasileira) correspondem a 22% da força de trabalho. No entanto, um contraste surge quando apenas 5,6% das empresas dizem ter contratado profissionais nessa faixa etária, o que evidencia condutas etaristas.
A prática do etarismo se manifesta de diversas maneiras, como por exemplo, comentários relacionados à idade, contratação exagerada de colaboradores mais novos, ou até dificuldades para promoção.
É importante lembrar que a discriminação etária pode ser considerada crime quando a pessoa idosa for tratada de maneira desigual ou injusta, for humilhada ou menosprezada e tiver o acesso a seus direitos prejudicados. O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), art. 96 penaliza essas condutas com reclusão e multa de 6 meses a 1 ano.
O etarismo dificulta a inserção e até mesmo a permanência de profissionais no mercado de trabalho. Pessoas mais velhas enfrentam grandes desafios ao tentar se recolocar, sendo, por vezes, preteridas por candidatos mais jovens. Para aqueles que já estão empregados, o preconceito pode minar a autoestima e o senso de capacidade, quando subestimados, o que pode afetar tanto o rendimento laboral quanto a saúde emocional dessas pessoas.
Indiretamente, a própria sociedade é vítima também desse preconceito, que prejudica, inclusive, o que poderia ser enriquecedoras experiências e aprendizados entre as gerações. A perpetuação desses estereótipos negativos embaça a participação ativa das pessoas de mais idade na sociedade, desencadeando o isolamento social e contribuindo para o surgimento de outros problemas.
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